27 de julho de 2012

rasto


Pescando ao espello

desde a popa cem vénus espelhamos
absortos no seu nascimento
por ver de apanhar alguma vieira

nom é amor mas formosura
que nos alimenta


a imagem, tirada na arouça, forma parte do arquivo a memoria do mar, do museu do mar de galiza. a técnica do espelho é utilizada tanto para a pesca do polvo como para a vieira.

21 de julho de 2012

a capa


a noiva e o navio já tem desenho exclussivo para a sua capa. 

como ando rodeada de artistas, pedim-lhe a andrea lópez que desenhasse a ilustraçom. 

andrea e mais eu  partilhamos o gosto pola navegaçom tradicional e as duas andamos a navegar os mares da arouça na ent dorna. quem melhor que ela para pór imagens aos meus poemas!

e essa maravilha é a que acordou.

obrigada, andrea!

9 de julho de 2012

éden

planisfério de cantino, de 1502, onde o brasil aparece representado por ourives papagaios


assinalavam os papagaios para colombo
a boca da maravilha o ouro em perspectiva

chegando às baamas os bandos a voar
escureciam o céu esclareciam a terra

devem ser estes arrabaldes do paraíso
pensou o navegante [e antigamente plínio]

ao despertar notei o rebento
duma peninha azul na tua nuca

uma outra verde.

o navio: mar de baixura

a dorna é a protagonista do poemário
 quando me instalei na arouça um colega do trabalho explicou-me: 
- se vas viver aqui, tens que fazer o curso de dorna.
e eu dei uma resposta de autêntico interiorismo rural:
- que é uma dorna?
esse era o conhecimento que eu tinha do mar galego. um saber superficial e costeiro, nunca melhor dito. evidentemente, figem o curso, na escola de navegaçom tradicional da acd dorna. aprendim a navegar a vela e a remos, sem motores nem bruares de cavalos. 
porém, nom só aprendim a içar o trapo ou levar o temom. com a gente de dorna conhecim o mar da arouça, as suas pedras e as suas histórias; soubem que há sítios melhores para a rabaliça e outros preferidos polas vieiras, ou que naquela ponta afogou um homem ou que lá assoma o pau dum velho pailebote que foi bateia.  soubem o que é quedar-se o vento ou ir calma podre. quando caim na conta eu já falava de nom ver a boia, de haver gente como areia, ou chover a esmadraçar, todas maneiras de dizer carcamãs.
e com o achegamento ao mar, chegarom os poemas e a vontade de fazer um presente á gente que me acolheu no seu mundo como se nom fosse de fóra, e que mantém vivo um património que nos pertence a todas.

o presente vém sendo a noiva e o navio.


crónica de viagem: mar de altura

Mapamundi de toscanelli, espelho europeu do mundo no século XV

podem-me as bibliotecas. e as livrarias de velho. e de umas em outras tropecei num tema que nom vinha comigo. ou sim.
há bem de anos dei na livraria vetusta, de compostela, com uma fermosa ediçom da historia verdadera de la conquista de la nueva españa, de bernal díaz del castillo. houve de juntar o dinheiro durante semanas para poder mercar o volume. e por suposto lim. 
aí entrei no mundo da narrativa das américas, das descobertas e das viagens oceánicas. continuei com colombo, cabeza de vaca e os portugueses e vasco da gama, e o piloto anónimo e vaz caminha e o fidalgo de elvas e o preste joão da etiópia e... 
... e quando me pugem a escrever este livro de mares, nom puidem evitar fazer a minha homenagem particular a todos estes loucos e avarentos navegantes. assim, artelhei o livro como a crónica duma viagem oceánica, e dei voz, nalguns dos poemas, a estes marinheiros que figeram algo que nunca antes ninguém ousara (ou sim?): perder o medo ao que houver além da linha do horizonte.
e a maioria dos títulos que tenhem os seis capítulos do livro, estám tirados e adaptados dalgumas dessas crónicas que vos cito e que andam perdidas polas estantes da minha biblioteca particular. 


8 de julho de 2012

o lugar


ugia pedreira trouxo imagens, e eu dei em descobrir um novo mundo.  
para a sua secçom visons forasteiras da revista dorna, pediu-me um texto inspirado numa das suas fotografias. eu escrevim... e já nom puidem parar. assim foi que a arouça e as suas dornas e o seu mar dêrom para um livro:

 
silhueta

sequeira inclinada no labor. andar ao burato. braços que pregam cem velas. arria-me um cabo. mãos que tesam as cordas. ir à bateia. punhos ergueitos na luita. contra o cam. pinheiro que nom dará pau. relinga em sombra. redes que alimentam bocas. no pombeiro. pára-águas que o vento esfarrapa. árvore seca. cãozinho ladrando-lhe à lua. calma podre. punhos ergueitos na luita. maré negra. casca que aos petos deu habitaçom. casota. dedos a dançar a baila do sol. e dedas. espinhas cravadas nos olhos da vida. raízes em terra. silêncios de despedidas. aboubece. punhos ergueitos em luita. dignidade. arouça eclipsada por mares de ausência. fundido em sete.

risom que une ilha e céu. na praia dos peixes.


6 de julho de 2012

borrasca

nascido deste tema de fred martins:



o mar nom cresce em raiva porque nós o naveguemos 

há teorias científicas bem sistematizadas 
tratados a comentar presões atmosféricas 
ventos dominantes ou gradientes de temperatura 
[consultem a wikipédia e corroborem] 

o mar nom cresce em raiva porque nós o naveguemos 
mas aqui 
nesta grandeza ilimitada 
sem mais que mesquinha infinitude em volta nossa 
acabamos por acreditar o desatino 
de que o temporal 
é enviado contra nós 
por um mar em paixom ardente 
farto da mosquinha peganhenta 
dorna de nove quartas 
que ousa importuná-lo 
e cavalga destemida 
o seu enorme lombo de baleia.


5 de julho de 2012

o título

uma noiva beijando outra noiva ao baixar do navio (imagem de REUTERS)

na escolinha,
a menina,
propícia a equívocos, disse:
- masculino de noiva é navio.

repreenderam, riscaram, descontaram.

mas ela estava certa.

noivados são mares
de barcos pares.

mia couto, errar en Idades Cidades Divindades