18 de janeiro de 2014

metal de sacrifício

as embarcações grandes da ENT Dorna tenhem sins. eu escuitava isso dos sins e nem ideia de que raio de chismes eram. até me fui polos pecados, por isso dos empréstitos ingleses tão próprios da costa... 

e não. os sins não são outra cousa que zincos, ou melhor, peças de zinco. 

Un dos sins na popa da lancha jeiteira Nova Marina.
estas peças são colocadas junto ao ferro do barco. a sua função e evitar a oxidação de cravação, agulhas de temão e outras peças de metal que haja no casco. entre o zinco e o ferro produze-se uma reacção química, que explica melhor que mim a wikipédia, e que faz oxidar o sin e conservar em bom estado o ferro. por isto a aquele dizem-lhe metal de sacrifício
O sin de proa. Este ano haverá que reponhê-lo!

não digades que isto não dá para um poema!


zn


como zinco que cinge o ferro no navio
para o mar nunca enferruxar a cravação

são os abraços nocturnos metal de sacrifício
que atenua o ronça-ronça do quotidiano.



a imagem dos cravos é de bladeflyer e tirei-na de aqui.

 

Dornas no Cais do Sodré

No Cais do Sodré não, mas por alí perto sim.

Contei por aqui que havia de ir a Lisboa a apresentar a noiva e o navio, e nunca vos contei como foi... Isto aconteceu já há mais de meio ano, lá por junho de 2013.



A mesa de presentações e a estupenda companha pictórica.

O meu ex-colega de trabalho e amigo Manuel foi o encarregado de argalhar a actividade e apresentar-nos, a mim e ao poemas, perante o público.

O direitor do Museu da República contando de barcos...

O lançamento foi na Biblioteca-Museu da República e a Resistência, e o seu direitor tivo a bem dar-nos a benvinda publicamente.

Aula devalde de navegação tradicional
Isso sim, as dornas sim viajárom a Lisboa. Nito, do bar da Ponte, deixou-me a sua Jamaica em miniatura para eu poder explicar-lhe ao público que era uma escarva, uma vela de relinga ou uma cadeira.

A Jamaica navegando entre as assistentes à poetada.
Depois figem uma leitura de poemas que forom acompanhadas aos teclados polo músico David Zink, colaborador casual e improvisado. Socorro, a outra argalhadora desta actividade, conseguiu que nos acompanhasse.

Explicando um dos poemas antes de o ler...
Enfim, dá gosto viajar ao Sul de quando em vez para lembrar que poucas cousas são as que nos separam, muitas menos que aquelas que nos unem.

a draga

Numa saída em dorna polo mar da Arouça, soubem da draga. 

Cruçamo-nos com ela a altura do faro do Seixo e alguém disse: lembrade a hora; imos ver quanto tarda em vir de volta.

A draga passeando entre bateias.

E contárom: o porto de vila-garcia já não pode com tanto mercante e tanto contentor de boluda. é um porto antigo pensado para embarcações doutra épocas e não tem calado suficiente. Assim que, para não perderem negócio, tenhem contratada uma draga que esta, dia a dia, retirando dos seus fundos a areia e os limos que as correntes marítimas depositam lá noite a noite.

O porto que não dá para mais.

Claro que as areias e limos dum porto mercante não são inócuas, mesmamente. Levam com elas os azeites, gorduras, petróleos e metais que a actividade portuária deixa de recordo nas águas. Os protestos das confrarias e agrupações marinheiras exigirom que essas lamas fossem arrojadas fora da ria, para evitar a contaminação dos bancos marisqueiros e pesqueiros. O acordo foi botar o lodento lixo numa fossa além da ilha de Sálvora. 

A suspeita dos marinheiros era a draga não cumprir tal acordo, pois seique cada uma das viagens para baleirar as suas entranhas intoxicadas, lhe levava menos tempo do devido.

Desta história nasceu o poema

impacto ambiental

a draga no porto de vila-garcia


por que poidas achegar-te sem medo
nem perigo
anda a draga a escavar todo o dia
as noites todas [e muitas tardes também]
lodentas lamas mercuriais areias
com pesados metais em revoltalho
óxidos de óleos e pinturas

e muitas noites [e tardes e dias]
anda a draga indo e vindo
largando aos oceánicos fundos
bem longe / por fora de sálvora
a minha tóxica tristeza

nas redes andam a cair já
mutantes sardinhas e badejos.

10 de junho de 2013

navegando até o cais do sodré

 
as velas voltarám ao Tejo

A noiva e o navio, depois duma varada técnica durante este inverno, volta ao mar, desta vez marcando rumos oceánicos. Achegará-se à cidade lisboeta para lá levar às portuguesas esta nossa língua, que também é sua. E este mar, que durante séculos partilhamos. se andades polo sul, achegade-vos na sexta 14 ao Museu da República e a Resistência, e gozade com nós duma tardinha com saibo a salitre. 

A actividade faz parte do programa Galiza, um olhar de perto.


15 de dezembro de 2012

perdidos

uma píldora dourada na ilha gelada do norte antes de vir hibernar ao sul

seguimos o voo dos passaros
o rasto de penas e córneas 
as rotas de travessia 

voltamos da tundra 
atrás das pilharinhas 
traz-nos o maçarico 
da ilha gelada do norte 
ás rinchas arrastam-nos 
estricados mascatos 
acompanhamos às garças 
até os canaviais do sul 
fugimos da trevoada 
como do enluitado paínho 

como aves migratórias 
andamos no mar 

sempre ao encontro 
das regiões mais quentes 


a imagem é de pintafontes e tirei-na de aqui.